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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Raio X: LEOPOLDO, A VIDA E LEGADO DE LEITURA DE UM CENTENÁRIO CIDADÃO ARATUBENSE. - Parte I

Leopoldo em sua  casa 
“Eu sempre digo: tenho vergonha de mim, meu avô lia até às 11 horas da noite. Todo dia ele lia até às 11 horas da noite. Quando não tinha energia, era lamparina... Ele tinha uma biblioteca, muita gente mandava livros pra ele. Tinha uma coleção de almanaques.”(José Erildo Pereira Martins, 76 anos, neto de Leopoldo Pereira Martins).

“Ele lia tudo que via, jornais, livros antigos, tudo ele lia e ele tinha um caderno que quando ele terminava de ler ele anotava.” (Raimunda Martins de Araújo, 57 anos “neta”, sua mãe foi criada por Leopoldo Pereira Martins).

“Mamãe me levava para casa da Mafisa, da Bia, e sempre que eu entrava lá eu observava que sempre tinha muita gente na casa, além do pessoal da família, tinha o pessoal da comunidade... Ele, Leopoldo sempre acompanhado de um livro perto dele uma estante com vários livros guardados, tipo um armário de madeira grande... Não era uma casa suntuosa, mas era uma casa grande. E o que chamava mais atenção dentro da casa para mim era a extensão da leitura que ele tinha dentro da casa, a quantidade de livros dentro da casa.” (Francisco Araújo Martins, professor Chiquinho, 39 anos, quando garoto era levado por sua mãe e via e ouvia as leituras de seu Leopoldo).

O Brasil ainda é vergonhosamente um país de não leitores. Uma pesquisa de 2006 mostra o Brasil em 27º lugar num ranking de 30 países, que gastam 5,2 horas por semana com um livro. Os argentinos vizinhos nossos deixaram-nos pra trás com a 18ª posição. E de lá pra cá pouco mudou nessa triste realidade leitora brasileira. Alguém que ler um livro por ano no Brasil é considerado um herói. Mais de 77 milhões de brasileiros escolarizados afirmam não terem o hábito da leitura. Nossas bibliotecas públicas e até as escolares ainda são pouco visitadas. Talvez você não saiba, mas num passado distante, quando o Brasil ainda era império, antes mesmo da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, nasceu em Coité(antigo nome de Aratuba) um homem que durante sua vida dedicou-se entre outras coisas a leitura de livros, jornais e revistas. 
Leopoldo
Seu nome era Leopoldo Pereira Martins, mais conhecido como Seu Leopoldo. Filho único de Luiz Pereira Martins, conhecido como Luis Botija, e sua mãe uma senhora chamada simplesmente de Maria. Seu pai um homem culto e grande comerciante do Maciço de Baturité que falava francês e se relacionava com importantes comerciantes franceses. Seus produtos como tecido, bacalhau e ferramentas agrícolas eram todos importados da França. Os produtos solicitados por catálogos, eram entregues pelos navios na Ponte Metálica que foi Porto de Fortaleza até a década de 1950. Depois eram transportados de trem até Capistrano e subia nos lombos de burros até Coité. O comércio do pai de Leopoldo funcionava onde funcionou por muitos anos a mercearia do Sr. Antônio do Clóvis, onde hoje é a Aratuba Farma. E apesar de ser filho de um comerciante rico, Leopoldo vivia de seu trabalho da carpintaria. Parece que a discordância de seu pai quando Leopoldo decidiu se casar com uma viúva com quatro filhos, chamada Melquiata, aliado ao desaparecimento misterioso da barrica(botija) de seu pai, o deixou sem muitas condições financeiras para sobreviver. Com os jagunços e arrastões existentes no Ceará e Maciço de Baturité, comerciantes guardavam na época suas moedas de ouro em barricas de madeira e foi assim que querendo proteger seu dinheiro, Luiz Pereira Martins perdeu tudo que tinha e a partir desse episódio surgiu seu apelido de Luiz Botija. 
Centenário de Leopoldo
Em Aratuba Leopoldo é mais conhecido por ser um grande carpinteiro e marceneiro. De suas mãos ainda temos as janelas de uma casa pertencente à família Lima localizada na Rua Júlio Pereira; os confessionários da Igreja Matriz e alguns móveis na casa da tradicional Família Pereira. O professor Francisco Barbosa guardou por algum tempo um martelo de madeira arrematado num leilão por seu pai feito por Seu Leopoldo para a festa de São José. Leopoldo também era um músico. Gostava tanto de tocar como ouvir música. Em sua casa acontecia um forró familiar. Tocava nos reisados e tocava nos sinos da igreja durante os nascimento e falecimento das pessoas com um som alegre e outro triste respectivamente. Fez parte da Lira Coiteense, uma banda de música da antiga Coité e para isso estudava partituras musicais. Segundo seu Neto José Erildo(Seu Erildo), Leopoldo tocava sanfona e contra-baixo. E seu outro neto José Ilo(Zé Ilo) se dirigia até a casa de seu avó Leopoldo após o almoço  para colocar seu toca fita para o mesmo ouvir músicas. Diz-se que o Hino do Congresso chamado erroneamente de hino de Aratuba era uma dobradinha transformada e adaptada por Seu Leopoldo onde a expressão “Aratuba a cantar se levanta”, era para destacar o novo nome do município, após Coité e Santos Dumont. Como o congresso aconteceu em 1945, e a designação de Aratuba em substituição a Santos Dumont se deu em 1º de janeiro de 1944, tal versão histórica faz sentido. Porém os documentos oficiais da igreja simplesmente afirmam que a música é do Dr. Alfredo de Oliveira e letra do clérigo M. Edmilson.