Páginas

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Romaria das Cebs - 45 anos em Aratuba vai contar com a presença de Padre Moacir

Padre Moacir celebrará ao lado de Pe. Claudio os 45 anos das CEBs em Aratuba.

Programação da Romaria das Cebs
Data:08 de setembro de 2013:
Saída da Romaria: 09:00hs em frente a Igreja Matriz de Aratuba
Trajeto: Igreja Matriz, Ruas de Aratuba, Ce 065 até a entrada da Pindoba/Sitio cantinho e seguindo para a comunidade de Paraíso (Antiga casa São Alfredo).
Missa: 11:00 hs.
Celebrantes: Pe. Moacir e Pe. Claudio 

As CEBs em Aratuba e a luta pelo pobre e pela terra.
Quando se fala em Comunidades Eclesiais de Base em Aratuba os nomes dos párocos José Maria Cavalcante Costa e Moacir Cordeiro Leite vem quando se fala em Comunidades Eclesiais de Base em Aratuba os nomes dos párocos José Maria Cavalcante Costa e Moacir Cordeiro Leite vem logo a mente. É simplesmente impossível falar em Cebs em Aratuba sem citá-los, se bem que o trabalho do último nessa área tornou-se referência não só em Aratuba, mas no Brasil inteiro. Mas as pequenas reuniões comunitárias começaram antes mesmo de padre Zé Maria. Numa entrevista feita pela professora Nely de Lima e Melo no ano de 1981, padre José Maria afirma: “Cheguei em Aratuba a 19 de fevereiro de 67. Eu trazia dentro de mim a certeza de que o caminho para começar um trabalho não era a partir da liturgia, não era alimentar a sacramentalização; não era fixar na sede e esperar que o pessoal viesse falar com o padre, mas ir ao povo: sair, visitar e conhecer o pessoal.” Com essa perspectiva e visão de estar perto do povo e conhecer sua realidade, padre José Maria saiu a visitar nos sítios. Na mesma entrevista ele chega a dizer: “E havia um sítio chamado Paraíso, onde havia um comecinho de reunião, por conta do meu antecessor.” Significa que mesmo timidamente as pessoas já se reuniam em Aratuba no sítio Paraíso no paroquiado de Dionísio Mosca Carvalho, o antecessor de padre José Maria que passou a freqüentar essa localidade aos domingos à noite, ficando por lá até terça-feira, realizando reuniões e visitas familiares. Entretanto como disse o padre na entrevista esse trabalho durou um ano em discussão de idéias sem ações práticas. Na verdade todo o terreno das Comunidades Eclesiais de Base estava sendo preparado e o padre que iria abrir caminhos largos nesse processo de libertação dos pobres das mãos dos opressores chegou como auxiliar de padre José Maria na década de 70. Refiro-me ao reverendíssimo Pe. Moacir Cordeiro Leite.

Padre Moacir Cordeiro Leite, nasceu em Papara, no município de Maranguape-Ce, no dia 28 de outubro de 1937, filho do casal João Leite Ribeiro e Júlia Cordeiro Leite e apesar de não ser filho de Aratuba fez dessa terra seu quartel general com poderes além do religioso e chegando a influenciar nos destinos políticos do município. Tornou-se sacerdote em 06/01/1966, um ano antes da chegada de Zé Maria em Aratuba, embora sua ordenação presbiterial se deu em 06/01/1960 na catedral de Fortaleza. Cursou o ginasial no Ginásio Anchieta, em sua terra natal e o Científico no Colégio Castelo Branco, da Arquidiocese, concluído em 1955. No mesmo ano e seguinte passou no Centro de Preparação de Oficiais de Reserva, em Fortaleza e começou a participar da JUC – Juventude Universitária Católica. Iniciou matemática na Faculdade dos irmãos maristas, também em Fortaleza. Seu 3º ano de filosofia e o restante do curso, Moacir fez no Seminário Regional em Olinda –PE.

O livro Terra de Gente – Uma Historia de Emancipação no Ceará, de Ana Naddaf e Claúdio Lima no capítulo intitulado “E foi um padre quem puxou a briga”, registra as palavras de Padre Moacir: “A nossa luta começou porque os trabalhadores começaram a ser acuados pelos patrões.” Padre Moacir cita várias lutas contra esses padrões como um genro do prefeito de Itapiúna, conhecido como Bolívar, na Fazenda Jardim e uma luta contra um ex-secretário de saúde do governo militar, o médico José Dorival Nunes Cavalcante (Dr. Dorival). E assim a luta de Pe. Moacir foi crescendo mundo afora. No caso do Monte Castelo, por exemplo, ele descobriu que o pequeno agricultor pagava meia de algodão quando pela lei deviam pagar somente 10%. Moacir diz que o pessoal de Monte Castelo “fizeram uma leitura da Bíblia que dizia que quando se descobre que algo está errado, deve-se mudar logo e não se pode deixar para o amanhã. E eles traduziram isso na Bíblia e disseram para o padrão que não podia deixar para amanhã. E que não iam esperar mais um ano”. No final das contas eles foram expulsos das terras sem terem para onde ir. E a luta de padre Moacir e Zé Maria só aumentou. No final das contas caminhando, catequizando e acompanhando as audiências judiciais até que finalmente a vitória chegou.

Moacir não teve mais sossego, as comunidades de Jaguaruana, de Califórnia e de Canindé batiam em sua porta, pois muita gente via nele um padre libertador. Sua personalidade era tão marcante no meio do povo que o Frei Carlos Merster quando escreveu “Um ensaio do reino”, falando sobre as Comunidades Eclesiais de Base da Paróquia de Aratuba para a Arquidiocese de Fortaleza, afirma que “nunca vi alguém ter uma liderança tão grande no meio do povo como o vigário. Ele é líder indiscutido na região toda. A sua liderança é tão grande, que ao perguntar a alguém qual a gasolina que movimenta a comunidade, alguém me respondeu: “É a gente fazer a vontade do padre Moacir.” A ele o povo atribui tudo o que de novo e de bom está acontecendo na vida deles. As mudanças todas para o melhor tem, para o povo a sua origem em Padre Moacir, o vigário. É uma liderança muito profunda, alimentada constantemente pela atitude do Pe. Moacir a favor do povo e com o povo”.

Foram 32 longos anos de paroquiado no município, tornando padre Moacir um ícone, uma figura emblemática. E para quem pensa que somente no passado e por pessoas ignorantes ele era considerado um ser humano sem igual engana-se. Os professores do Grupo Corujão¹ disseram num trabalho acadêmico (2000) que “padre Moacir é um homem incomum.” Seu longo paroquiado porém trouxe desgaste para o catolicismo local. Quando foi lida a biografia do Revmo. Pe. Eudásio do Nascimento Cruz, na entrega do título de cidadão aratubense em 21/08/06 na Câmara Municipal, um dos pontos destacados de sua vinda para Aratuba foi a “Reconquista de irmãos e irmãs que desviaram sua fé para seitas protestantes, afastando-se do legado apostólico de N.S.J.C., que rejeitam os Sacramentos e as verdades teológicas contidas no Santo Evangelho”. Muitos afastavam-se da igreja por causa das homílias moacianas que misturava textos bíblicos com indiretas político-partidária. E se isso era verdade, ironicamente outras pessoas também abandonaram o credo católico decepcionados pelas atitudes liberais de seu sucessor que veio na missão de “reconquistar os irmãos e irmãs que desviaram sua fé para seitas protestantes...”

Mas as CEBs não têm apenas pontos positivos. Por exemplo, Francisco Turriane, de São Paulo, postou recentemente no facebook uma foto de Aratuba do período da gestão Ivan Santos. E lá ele faz o seguinte comentário: “Fizemos parte de uma equipe do Projeto Rondon, que visitou Aratuba em janeiro de 1980... Nos confrontamos com uma realidade diferente. Por um lado o prefeito que queria modernidade (praça, posto de saúde, quadra, etc...), por outro as Comunidades Eclesiais de Base, com um trabalho com a população rural, que por seu lado, tinha conseguido construir um hospital, com médico (Urico) e dentista (estava de férias) de excelente qualidade pago com dinheiro próprio. Sobre o posto a população que conversávamos acreditava ser obra desnecessária, pois o hospital supria - e muito - as necessidades de todos e os remédios mandados pelo estado - que estavam estocados na unidade - deveriam ser mandados para o hospital. Existia uma disputa mais do que explícita, entre as 2 facções políticas. Foi um aprendizado político muito importante para nós”. (Grifos meus)

Os cebcistas se concentraram muito naquilo que os párocos diziam e o questionamento era mais externo que interno e dessa forma acabava por criar uma facção a se engajar politicamente ao lado de certas questões sem compreender todas as suas nuances e consequências político-partidárias envolvidas.

Em sua carta de despedida no dia 15 de janeiro de 2002, Moacir diz que um dia voltará em definitivo para Aratuba. Na carta mencionou seu trabalho nas Cebs como um movimento pela reforma agrária, onde citou 20 fazendas que foram desapropriadas, num total de mais de 20 mil hectares de terras que pertenciam a 17 famílias e após desapropriação trouxe um benefício para mais de mil famílias. O Site da Arquidiocese expressa que em Aratuba, Moacir “Transformou a paróquia num galpão das Cebs e a casa paroquial, numa casa de todos. Com visitas e hospedagens nas casas simples e reuniões e celebrações debaixo de árvores.” E ainda acrescenta que “até hoje nada faltou para ele, não tem carro, não tem casa, não tem terra, não tem poupança, seu patrimônio é o povo.” E como a Paróquia de Aratuba teve um dos maiores número de assentamentos de terras no país, Moacir recebeu em 11.11.2010 na Assembleia Legislativa o 10º prêmio Direitos Humanos Frei Tito de Alencar. Atualmente Moacir se aposentou e voltou para Aratuba, na fazenda Jardim cumprindo assim sua promessa na carta de despedida.
Fonte: Aratuba Ontem e Hoje - Prof. Gildo Gomes