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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

RAIO X: “FOGO... CORRE... A LOJA DE SEU NEMÉSIO TÁ PEGANDO FOGO” - PARTE III

O CONTEXTO POLÍTICO-SOCIAL 
A máquina ao lado do incêndio da Casa Verdun em 1986 era uma máquina patrol Hubber Vaco de 360 cilindradas pertencente à Prefeitura Municipal de Aratuba e tinha um tanque de 440 litros de óleo diesel. Por ordem do então prefeito Raimundo Batista ela saia exatamente às 04:10 hs da madrugada da segunda-feira e chegava somente no final da tarde de sexta-feira. Seu trabalho em todo o município incluía abertura e nivelamento de estradas e barreiras e ainda de cuxias. E assim a velha patrol pode ser considerada um símbolo da administração de Raimundo Batista. Na época o Secretário de Transporte era o Sr. José Clementino Neto(Tadeu), hoje com 61 anos de idade. O patrolista era o Sr. Dionísio Marreiro. Tempos depois o prefeito decidiu vender o veículo devido o seu alto custo de manutenção. A máquina chegava a consumir quase 200 litros de diesel em meio dia de trabalho. José Clementino (Tadeu) lembra que não era possível retira-la do lugar no dia do incêndio devido a quentura e a proximidade do fogo, então o jeito foi refrigerá-la com jatos de água lançados por baldes para que o fogo não a atingisse. A máquina estava totalmente abastecida porque na segunda-feira seguinte sairia para o trabalho costumeiro. A patrol não explodiu, mas parte de sua tinta largou devido o alto calor. E no mês mesmo, precisamente nas eleições de 15 de novembro a administração de Raimundo Batista, foi atingida pelas chamas da derrota do Cel. Adauto Bezerra a quem apoiou.
A vitória do “Galeguim dos Zói Azul”, Tasso Jereissati, apoiado em Aratuba pelos adversários de Raimundo Batista foi vista como prenúncio de mudanças políticas no município. Com o fim do coronelismo cearense inicia-se à Geração Cambeba ou Era Tasso. Dois anos depois da vitória de Tasso, em 1988, Raimundo Batista finalmente perde o poder. Seu candidato, o médico Edilson Lessa Nogueira e seu vice Norberto Botelho perdem as eleições para João Leite Filho e José Ivan Santos, numa diferença apertada de 272 votos de maioria. João Leite obteve 2.523 votos contra os 2.251 de dr. Edilson. Era o fim do domínio político de Raimundo Batista que governara Aratuba de 1967-1970 vencendo o Sr. Clóvis Oliveira Lima por 742 votos contra 318; de 1973-1976 vencendo José Wolner Santos com 883 votos contra 545; e governou ainda de 1983-1988 num período político conturbado com a intervenção de Magalhães Neto e a administração de seis meses de José Martins de Souza (Zé Carlito) afastado por decisão judicial. Para os eleitores de Tasso a vitória de João Leite marcava o fim do coronelismo aratubense assim como a do “Galeguim” marcou o fim do coronelismo no Ceará. E assim a “velha Patrol” finalmente pegou “fogo” e chegou ao fim dando lugar as potentes Toyotas. A vitória de João Leite foi creditada a seu irmão como resultado dos trabalhos comunitário-religiosos, notadamente as Cebs – Comunidades Eclesiais de Base, organizadas e expandidas tão bem por padre Moacir Cordeiro Leite. 
Mas anos depois, agora em 1996, Júlio César, filho de Raimundo Batista dar o troco e retoma o poder das mãos daqueles que afastaram e desdenharam de seu pai. Na noite do incêndio Júlio César participava com sua esposa de um comício de Adauto Bezerra em Baturité. Porém na sua campanha eleitoral de 96 em Aratuba Júlio César colocou a foto de Tasso ao lado da sua. O fato tornou-se polêmico no município e uma passeata na rua central foi feita lembrando “Tasso 86” no protesto. E por fim Júlio César assumi a prefeitura prometendo desenvolvimento, simbolizada na sua campanha pelo computador. E assim da velha “Patrol” as potentes “Toyotas” e destas aos modernos “Gols”.
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