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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

RAIO X: “FOGO... CORRE... A LOJA DE SEU NEMÉSIO TÁ PEGANDO FOGO” - PARTE II

SEU IMPACTO APOCALÍPTICO
Enquanto as chamas cresciam o alvoroço aumentava e as pessoas agiam conforme o ouvir dizer. Cerca de 05 homens que jantavam no Bar e Restaurante o Pio, largaram seus pratos e correram sem pagarem a conta, prejuízo para o proprietário Antônio Alves de Araújo (Antônio Pio). O conhecido José Oscar ouvindo que o fogo se espalharia pela cidade tomou suas roupas, arrumou sua mala e saiu em direção à região de Marés. Pessoas corriam até a piscina e pulavam dentro a fim de se protegeram de um fogo que não passou da loja. Raimundo Orisson Freire Monteiro (Seu Adauto) que correu até sua casa para desligar a energia encontrou seu alpendre cheio de gente com  medo do incêndio e perguntando onde o fogo estava. E conforme ele mesmo disse outros desciam rumo ao Santo Antônio. Maria Laura Germano da Silva, hoje 65 anos, em 1986 grávida de seu filho João Paulo Germano (Joãozinho) correu com os outros filhos menores até a casa de Seu Doca onde havia muita gente preocupada e outras indo para mais longe porque se dizia que o fogo já chegara na farmácia da Dona Hosana. Edson Moura Martins, filho do Piloto, lembra que dentro da pequena piscina do Camará quando lá chegou já estava cheia de gente. E no campo de futebol as pessoas não paravam de chegar com os botijões de gás, tal era o medo do fogo alcançar suas residências. Maria Nivanda Martins Monteiro, 49 anos com 24 na época chegou a cair na rua correndo em meio ao apagar das lâmpadas públicas, pois as chamas atingiram os fios de alta tensão da rua Júlio Pereira. As fotos mostram uma canela do poste próximo à loja arriada o que indica que realmente houve um curto-circuito. Nivanda foi conduzida pelos amigos até o campo onde segundo ela mesma pessoas se deslocavam sem parar com botijões de gás e algumas gritavam, rezavam e choravam, pois acreditava-se que o fim do mundo chegara. E o campo como um espaço aberto era um local de proteção para todos, embora mesmo pairasse o temor do fogo subir capim acima, pois o incêndio acontecia em pleno verão. Verdade que o ano de 1986 para o município foi chuvoso e frio. Os dados pluviométricos indicam 2.217,5mm de chuva durante todo o ano. 
Não há um mês sequer de 86 sem chuvas em Aratuba, até no mês do incêndio o registro pluviométrico mostra 49,0 mm de chuva. Mesmo assim o incêndio aconteceu no período do verão e o capim do gado nos arredores da loja estava seco. Isso aumentava o medo e os boatos que o “fogo subiria manga acima” ajudado pelas fortes ventanias do período veranico e noturno aratubense. Para piorar a situação uma máquina patrol de tanque cheio ao lado da loja causava mais pavor nos populares. Maria Lucilda Silva Souza conta que de sua casa via homens lançando água na patrol. Entre eles estava Lucivaldo Gomes da Silva (o Bahia) que pegava à água da cisterna existente atrás da prefeitura jogando-a em latas e baldes na loja e depois somente na patrol. Ao jogarem água na máquina e nos pneus procuravam evitar que a mesma explodisse. No entanto para outros distantes do local tal explosão já tinha acontecido e o fogo se espalhara na cidade chegando na praça central. Um homem que corria rumo à piscina pública pulou assustado dizendo que o fogo estava atrás dele. Constantou-se depois que era o farol de um carro que passava. Quando o incêndio já no seu final foi contido pelos bombeiros durante a madrugada, muitas pessoas estavam distantes do município e sem querer voltar. 
Diz-se que alguns chegaram em Capistrano. Por outro lado enquanto uns corriam, Dona Aurir dormia em sua residência vizinha a loja em chamas. Com problemas de surdez e sem querer sair de sua casa, homens abriram sua porta à força e conduziram-na para fora mostrando o fogo que alcançava as pontas do oitão de sua moradia. Bem, o mundo não acabou e nem a cidade de Aratuba. Somente a Casa Verdun. Nas palavras de Zezinho, da Loja “não sobrou nada, só as paredes.” Até o cofre de aço derreteu e com ele os papéis, dinheiro, escrituras e documentos pessoais de Seu Nemésio e Socorro Lima. Uma história comercial de tantas décadas de luta e muito esforço que começou com Adolfo Lima, pai de Nemésio e agora estava no pó e cinza. Porém sabe-se que algumas poucas coisas que sobraram foram saqueadas pela manhã do dia seguinte. Infortúnios de um momento triste.


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