Páginas

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Situação dos açudes no Ceará é a pior da história

Dos 139 açudes monitorados pela Cogerh, apenas dois reservatórios estão com volume acima de 90%

A escassez de chuva durante o primeiro semestre de 2013 afetou diretamente no volume dos açudes que contribuem para o abastecimento de água em todo o estado. “Esse ano foi o pior ano da história para os reservatórios”, desabafa o diretor de operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Ricardo Adeodato.
As chuvas leves e regulares registradas ao longo do período do inverno são boas para a agricultura. Mas para a recarga de açudes, não. “Para os reservatórios é importante ter chuva forte durante um pequeno período. Dois ou três dias de chuvas fortes proporcionam melhores recargas”, explica.
De acordo com o diretor de operações, desde 2010 os açudes não têm recargas significativas. Dos 139 açudes monitorados pela Cogerh, apenas dois reservatórios estão com volume acima de 90%: açude Gavião, no município de Pacatuba, com 93,47%, e Tijuquinha, em Baturité, com 96,44%. “O Ceará é um estado muito grande e está inserido no semiárido, com solo cristalino, que é muito ruim porque absorve pouca água”, explica.
As 12 bacias hidrográficas acumulam volume médio de 40%. A bacia do Sertão de Crateús está praticamente seca, com volume de apenas 7%, seguida pela bacia do Curu, no Sertão Central, onde estão concentrados 11 açudes, com 14%. “O problema é localizado. A Bacia da Serra da Ibiapaba, por exemplo, está com volume de 55%”, aponta.
Expectativa
Para este semestre, as expectativas não são as melhores, já que o período é considerado de poucas chuvas no Ceará. A tendência é ter redução ainda maior. “Acreditamos que a recarga seja zero. Podemos chegar ao final do ano com 30% do volume nos reservatórios, representando 5,5 milhões/m³”.
Adeodato assegura que nenhum município terá o abastecimento hídrico interrompido, já que estão sendo realizadas ações emergenciais. “Se deixarmos a água parada, o sol ‘bebe’, ou seja, ela evapora, então precisamos usar de forma inteligente”, explica.“Estamos construindo adutoras de engate rápido e perfurando novos poços. Além disso, consolidamos o Eixão das Águas, que liga o açude Castanhão à Região Metropolitana”, completa.
Agricultura também sofreu
O primeiro semestre do ano também foi considerado crítico para a agricultura, já que as precipitações foram registradas em junho e julho, período considerado fora de época para a safra.
“É ideal que chova de março a maio. Em 2013, as chuvas foram mais recorrentes em junho e julho. Para a agricultura foi terrível”, diz o diretor-técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Walmir Severo.
A perda da safra foi de 72%, mas seria ainda maior se os agricultores não tivessem sido corajosos e plantado fora de época. “Muitos plantaram e colheram pouco, mas isso tem importância em termo de segurança alimentar. Você planta um pouco de feijão, colhe e alimenta a família por meses”,
Pecuária
O impacto da falta de chuvas na pecuária foi menor do que na agricultura. Em 2012, a mortalidade de bovinos foi de 5%. “Se você considerar os 2,7 milhões de bovinos, o número acaba sendo expressivo. Cerca de 13,5 mil perdas. Mas se pensar no rebanho em termo de economia, não é tão expressivo”, afirma.
O período será mais crítico neste segundo semestre. “As chuvas terminaram há um mês, quando chegar setembro, as reservas vão acabando. Quem tem água para irrigar logicamente vai ter forragem [alimento para o gado] irrigada, mas a grande maioria não tem água para irrigação”, diz o diretor-técnico.
Investimentos em agricultura
Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), a perda de 72% da safra é um valor razoável, tendo em vista a estiagem. Para minimizar os problemas, há investimento em ações emergenciais, como o Pagamento do Garantia-Safra, para cobrir as perdas já registradas. Atualmente, cerca de 168 mil agricultores recebem o benefício.
Além disso, o órgão informou que está inaugurando escritórios da Ematerce no interior do Ceará. “Só este ano foram inaugurados ou reformados 15 escritórios da empresa. Estão sendo convocados ainda agentes rurais para levar as políticas de assistência técnica para os agricultores familiares”.
Dentre os projetos realizados, estão em andamento: o Água para Todos, o Programa de Cisternas de Placas e a construção de quintais produtivos em diversas localidades do interior do Ceará. Já tendo em vista o ano de 2014, a SDA ressaltou que haverá continuidade das ações já desenvolvidas em 2013, principalmente no que diz respeito ao Projeto São José III e ao Projeto Paulo Freire.
Fonte: Tribuna do Ceará