A
HISTÓRIA DE UMA MÚSICA RELIGIOSA EUCARÍSTICA QUE QUASE VIROU HINO MUNICIPAL.
O próprio arcebispo D. Antônio de Almeida fez uma grande campanha contra
o comunismo no Ceará, embora muitos padres fossem acusados de serem comunistas
como o próprio Pe. Evaristo de Melo foi pelos seus opositores em Aratuba. Pergunta-se
se o sermão de Pe. Antônio Pequito contra o comunismo era uma advertência à
população aratubense ou uma indireta no próprio padre Evaristo. A primeira
opção parece ser a mais coerente. A própria presença do arcebispo no congresso
aumentava ainda mais a posição da igreja contra a ideologia marxista. O jornal
O Nordeste de 12/Jan/1947 registra as palavras do bispo cearense de forte
apelação contra o comunismo: “Os
comunistas sempre foram e serão inimigos da Igreja. Nunca poderíamos aconselhar
os eleitores que sufragassem um candidato pelos comunistas amparados.” Pelo
que se sabe Pe. Evaristo era um fiel ministro da igreja e seguia as orientações
de seu bispo, por isso as acusações de ser um comunista são altamente
improváveis.
Parece que as perseguições ao Pe. Evaristo eram mais frutos de outros
problemas locais. A senhora Albertina Farias Lima (Dona Albertina) destaca que
o pároco Evaristo de Melo aconselhava aos pais sobre a responsabilidade de
ensinarem os seus filhos e matricularem-nos no catecismo e que o mesmo tinha um
grande cuidado com as crianças ao ponto de fundar um campo de futebol perto da
matriz onde as crianças se divertiam após a instrução catequética. Uma pesquisa
da professora Regina Magna, diz que padre Evaristo “construiu um campo de futebol num terreno, onde hoje é a Câmara
Municipal, com o objetivo de proporcionar algum lazer para a população masculina,
desviando-os da bebedeira....” O padre pregava contra o alcoolismo e até
havia um documento que impedia os comerciantes de venderem bebida alcoólica
após as 19 horas. Portanto havia conflitos entre o vigário e os comerciantes
envolvendo princípios e interesses econômicos, até porque os comerciantes não
obedeciam à proibição da venda de bebidas.
O livro De Cuhyté (Sesmaria) a
Aratuba, de Pe. Neri Feitosa diz sem detalhes que Pe. Evaristo foi perseguido
por 15 homens que foram até a cidade de Mulungú para o insultarem. A professora
Regina Magna informa que padre Evaristo foi perseguido pelas autoridades
aratubenses nas eleições para governo de 1947, sendo acusado de comunismo. E
esse fato levou a se afastar da sede do município, concentrando seus trabalhos
paroquiais nas capelas da zona rural e na paróquia de Mulungú. Os revoltosos da
época, comerciantes aliados do subprefeito armaram ciladas para o pároco e se
dirigiram até Mulungú com cassetes e verbalizaram palavras duras contra o
vigário. O resultado desses acontecimentos foi a suspensão das missas
dominicais e dias santos durante quatro meses na sede de Aratuba até decisão em
contrário do Sr. arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa.
A saída definitiva
de Pe. Evaristo criou um período conturbado para a fé católica, gerando desconfiança
e uma prolongada ausência de um padre fixo na Paróquia de Aratuba. Porém Pe.
Evaristo não será o único padre perseguido e acusado de comunismo na história
dos paroquiados de Aratuba, mais tarde, nas décadas de 60 e 70 os padres Zé
Maria e Moacir serão também acusados e alvos da mesma pecha, embora num outro
contexto histórico e ideológico bem diferente. Ambos estarão engajados aberta e
corajosamente na luta contra os coronéis e em defesa dos pobres através das
Cebs – Comunidades Eclesiais de Base¹, um movimento religioso católico de
estudo bíblico comunitário, defesa dos direitos dos desfavorecidos e a
distribuição de terras ao pequeno homem do campo e que por influência da
Teologia da Libertação tomou um viés considerado comunista.
Foi desse congresso realizado com o esforço do pároco Evaristo de Melo
que surgiu uma canção musical que marcou o Congresso Eucarístico de 1945, cuja
letra é do Clérigo Manuel Edmilson e música do Dr. Alfredo de Oliveira. Sua
importância e contribuição histórica é que a expressão “Aratuba a cantar se
levanta” serviu para tornar o nome mais popular pois era um nome novo para o povo
e assim ajudou na mudança Coité-Santo Dumont- Aratuba. Porém sua influência
religiosa católica chegou ao ponto de ser cantado popularmente como Hino do
Município exercendo uma forte influência nos festejos cívicos municipais que
quase foi aprovado como Hino de Aratuba pelo Poder Legislativo. A mensagem de
nº 008/2005 enviada pelo prefeito José Wolner Santos no ano de 2005 pedia a
Câmara a sua oficialização. Na época em ofício datado de 21/03/2005 enviado ao
prefeito e ao presidente da Câmara Municipal enfatizei a inconstitucionalidade
do projeto. Era a primeira vez na história de Aratuba que um cidadão derrubava
um Projeto de Lei de um prefeito utilizando-se de argumentos históricos,
lógicos e éticos. Porém para complicar a situação eu era na época, Assessor de
Comunicação Social do mesmo prefeito. Arrisquei o emprego e coloquei a
obrigação de consciência e cidadania acima de um cargo de confiança.