Dos cerca de 15 mil indígenas que habitam aldeias na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), apenas 74 possuem graduação em Licenciatura Intercultural, numa demonstração de que há uma demanda muito grande de formação entre os povos indígenas no Estado.
A reflexão é do professor Carlos Kleber Saraiva, coordenador da Licenciatura Intercultural Indígena Pitakjá, cujas inscrições para a seleção da segunda turma estão abertas até o dia 24 deste mês. Elas podem ser feitas no Centro de Humanidades área 3 (CH3) da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Campus do Benfica, ao lado da Reitoria (3º piso), no horário de 8h às 17h.
Com duração de quatro anos, o curso é reconhecido pelo Ministério da Cultura (MEC) e vinculado ao Centro de Humanidades da UFC, explica o professor Kleber Saraiva, acrescentando que os candidatos devem ter concluído o ensino médio.
Sua criação partiu de reivindicação da própria população indígena, em 2006. Três anos depois, o curso foi autorizado e as aulas, iniciadas no ano seguinte. Em agosto de 2016, os 74 alunos que formaram a primeira turma colaram grau. "A demanda é grande e muitos índios querem participar", reconhece Kleber. São oferecidas 50 vagas para o curso que habilita o aluno a concorrer a uma vaga na pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado).
Conteúdo
O currículo é dividido em duas áreas, abrangendo conhecimentos de língua portuguesa, antropologia, matemática, e de elementos cultuais de cada etnia, a exemplo do toré e da língua tupi.
O curso tem o propósito de reunir os saberes acadêmico e científico, promovendo a troca de ideias e experiências realizadas em cada uma das aldeias. As aulas acontecem na segunda semana de cada mês, em diferentes tribos.
Com carga horária de 3.500 h/aula, a licenciatura inclui, ainda, a realização de plenária Pitakajá (às terças feiras), a fim de discutir as demandas, problemas do curso e debate acerca do contexto político. Nas quintas feiras, acontecerão as noites culturais, organizadas pelas etnias, com enfoque na celebração de cerimônias e elementos culturais de cada uma delas.
O conteúdo englobará danças, comidas e narrativas míticas, assinala Kleber Saraiva. O curso é financiado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), que cuida dos cursos de licenciatura no campo e indígenas. Os recursos são usados em forma de custeio, garantindo alimentação, aluguel de ônibus e material didático.
"Não tem custo para o aluno", avisa o coordenador. A UFC disponibiliza os professores que ministrarão as disciplinas divididas em seis módulos: antropologia e cultura, educação, sociologia, história, língua portuguesa e matemática. As aulas deverão começar até o mês de junho e tem previsão de durar quatro anos.
Etnia
No entanto, as vagas não são disponíveis a todas as etnias. Podem concorrer apenas indígenas das etnias Pitaguary, Tapeba, Kanindé de Aratuba, Jenipapo Kanindé e Anacé.
A restrição atende ao pedido dos próprios indígenas que, há cerca de oito anos, lutaram pela implantação da licenciatura. Da cinco etnias contempladas, somente a Kanindé de Aratuba não faz parte de aldeias localizadas na RMF.
Outro requisito básico para participar da seleção é que os candidatos sejam aldeiado. A comprovação pode ser feita pela declaração de associação local. Os interessados deverão entregar o formulário de inscrição, anexo ao Edital nº 05/2017 (goo.Gl/GAvK1p), e a documentação indicada no mesmo edital, no ato da inscrição. A prova constará de uma redação sobre cultura e movimento indígena no Ceará.
Mais informações:
Inscrições para curso de Licenciatura Intercultural Indígena Pitakjá. Até 24/02, das 8h às 17h, no CH3 da UFC (Av. Da Universidade, 2995, 3º Piso, Campus Benfica). Gratuito. Contato: (85) 3366.7582
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