Apaixonado pelos animais não sabe ao certo quando surgiu esta paixão, acreditando que já nasceu com ela, o que o motivou a dedicar sua vida à eles. Quando indagado sobre a origem deste sentimento, cita o grande músico Ravi Shankar que diz: “Há mais de mil vidas cultivo este amor”.
Sanjay, cujo nome Sânscrito significa San = juntos e Jay = glorificar, passa uma imagem de tranquilidade, espiritualidade e conexão com a natureza. De uma família Hindu, por muito tempo viveram trazendo mercadorias da Índia para vender em sua região, especialmente joias em prata. Seus pais vivem no interior, na Serra de Baturité, um dos pontos com a maior biodiversidade do nordeste e numa área bem preservada. É pai solteiro, vive com seu filho Jayram de 11 anos, que diz querer ser um cientista.
Seu primeiro contato com a falcoaria foi proporcionado graças a uma viagem para a Índia, que ganhou quando tinha por volta de 16 anos. Ao fazer uma escala de 24 horas em Londres, visitando o Zoológico ele viu uma apresentação de falcoaria pela primeira vez, e esta experiência o fascinou profundamente. Chegando na Índia ocorreu o contato mais intenso com uma ave de rapina, ao perceber em uma tarde ensolarada um rapinante (Milvus migrans) pousar na caixa de ar condicionado do seu hotel. Seu olhar foi hipnotizado por aquela ave magnifica que estava se alimentando tranquilamente, até que seu alimento caiu e ela virou de costas para a janela, e sem nem perceber Sanjay já a tinha em suas mãos. Após alguns minutos de contemplação, ele libertou a ave na mesma janela, mas o encantamento já havia ocorrido, e este momento nunca mais seria esquecido.
Chegando da Índia ele viajou pelas praias turísticas do Ceará vendendo algumas peças de prata Indianas. Em uma das praias encontrou um rapaz dando coca cola a um Carcará. Imediatamente lhe veio à lembrança do seu contato com a falcoaria e com o milhafre (Milvus migrans), e ele ofereceu um pingente pela ave. Retornando à sua residência começou a estudar e conseguiu orientação com um mineiro chamado Guilherme que lhe passou informações sobre a falcoaria e um material sobre a confecção de capuzes. Em seguida adquiriu a obra portuguesa “A arte da Falcoaria” de Carlos Crespo, além de buscar na internet mais informações e contatos de outros falcoeiros, com quem aprendeu muito.
Sua visão da Falcoaria vai muito além da caça com uma ave de rapina treinada:
“Na verdade para mim falcoaria é muito mais que apenas treinar aves de rapina... Falcoaria é a paixão por toda e qual quer coisa relacionada aos rapinantes, você não precisa estar voando uma ave para se considerar um falcoeiro ativo, os verdadeiros falcoeiros não conseguem viver longe dos ambientes naturais onde vivem os rapinantes.Por aqui, vejo que existem muitos falcoeiros de altíssima qualidade, mas ao mesmo tempo vejo que o simples fato de colocar um rapinante em punho infla o ego em demasia de alguns indivíduos.Isso termina por causar desunião e os rapinantes perdem muito com isso. Afinal, o nosso conhecimento de falcoaria traz com ele a responsabilidade na preservação, que acredito eu, seja a maior função de um falcoeiro nos dias atuais!”
Autodidata na falcoaria inclusive por ter sido o pioneiro no seu estado, aprendeu com o contato à distância com outros falcoeiros, mas sobretudo com as próprias aves, adquiridas de criatórios, que foram suas maiores professoras. Ele assinala que há vários obstáculos ao crescimento da falcoaria e na conservação das espécies brasileiras:
“Obstáculos?? Vejo sim, e muitos! Primeiro o descaso com a fauna e flora nordestina, estamos perdendo muitas aves e seus ambientes todos os dias. Por aqui é feito vista grossa..Outro grande problema é a burocracia na legalização de novos criatórios comerciais, isso deixa as aves muito caras, beneficiando apenas traficantes ilegais. Imagine que algumas das nossas aves são mais fáceis de comprar na Europa que no Brasil. Absurdo!“
Pessoalmente ele conhece poucos falcoeiros e nunca participou de nenhum encontro de Falcoaria, já que se interessa mais em explorar lugares ainda não conhecidos. Sua maior inspiração vem do grande Falcoeiro Espanhol Feliz Rodriguez de La Fuente. A leitura de seu livro e os seus documentários como “Operación Zorro” o fascinaram.
Sua primeira ave de rapina foi um falcão quiri-quiri (falco Sparverius) comprado do criatório Fukui. O único obstáculo na aquisição desta ave é que a empresa de transporte a enviou para o Maranhão ao invés do Ceará, o que fez com que o criador Fukui tivesse que orientar os funcionários da empresa sobre como alimentar a ave dentro da caixa, possibilitando assim que permanecesse viva até a sua chegada.
Apaixonado pelos falcoes peregrinos, recentemente concluiu o seu mestrado sobre eles. Ele nos relata como foi a experiência:
“Venho acompanhando falcões-peregrinos aqui há muitos anos, sou fascinado por essa espécie e encontrei um lugar onde eles adorar caçar, em meio as dunas, local super propicio a captura. Passei duas temporadas de migração em campo, capturei 9 falcões, os quais fiz uma recaptura e logo depois foto de outro indivíduo anilhado por mim. Consegui isolar uma de importância e algumas Submeti as principais bactérias isoladas ao teste de sensibilidade a antibióticos clássicos, algumas mostraram resistência a mais de 10 dos 12 antibióticos testados.Também foi feita a coleta de sangue para publicação de artigo sobre o padrão hematológico da espécie durante sua migração no nordeste brasileiro."
Sanjay é também viciado em fotografia de Natureza, e além de gostar da beleza das fotos, valoriza mais os registros, já que as florestas do Ceará estão sendo destruídas dia a dia. Preocupado com a conservação ambiental, ele tenta através de suas fotos registrar espécies de fauna e flora Cearenses que muito em breve poderão não ser mais encontradas. Ele possui mais de mil fotos de natureza feitas no Ceará todas com informações da espécie, data e município, e que podem ser vistas por todos no seu flickr.https://www.flickr.com/photos/sanjayveiga/
O controle biológico é visto por ele como um tema de elevada importância, e aliado à falcoaria como uma solução ao desequilíbrio ecológico. Sobre isso ele afirma:
“A cada dia vemos mais e mais problemas relacionados ao descontrole de algumas espécies, a falcoaria tem realizado um trabalho belíssimo Brasil a fora, gerado muitos empregos. Precisamos legalizar a profissão de falcoeiro no país, estabelecer testes padrão e um piso para essa nova classe de trabalhadores”
A reabilitação de aves de rapina, utilizando técnicas de falcoaria, tem sido realizada em várias partes do Brasil, mas infelizmente no Ceará ela ainda não ocorre, deixando os rapinantes feridos sem um socorro adequado, e ao serem libertados colocando em risco inclusive a saúde das aves de vida livre por contaminação bacteriana:
“Por aqui a reabilitação é ZERO! Não posso falar de estados onde não acompanhei, acredito que por aí deve estar sendo feito de uma maneira um pouco melhor. Em geral se um falcoeiro quer que uma ave seja bem reabilitada, ele tem que fazer por contra própria, correndo risco de ser julgado como traficante ou por posse ilegal de aves. Vejo aves sendo soltas sem o menor preparo físico, provavelmente albergando bactérias adquiridas nos ditos centros de triagem, onde utilizam muitos antibióticos, os quais forçam a resistência bacteriana e depois soltam essas aves.Na verdade por aqui tem sido feito um desserviço, justamente por não terem a humildade de aceitar ajuda de falcoeiros."
A solução para a conservação ambiental é através da educação, e a educação ambiental especialmente a feita com o uso de rapinantes é vista por ele como a chave para a mudança da atual situação de destruição de nossa fauna e flora:
“Educação ambiental é a chave!! Não nos preocupamos com algo distante ou que não conhecemos. O simples fato de observar ou colocar uma ave em punho, muitas vesses já é o suficiente para influenciar o indivíduo a enxergar os rapinantes com outros olhos. Sem falar nas explicações sobre controle biológico natural, migração e vida dos rapinantes. Um verdadeiro falcoeiro contamina todos com seu amor por essas fascinantes aves.”
Sanjay além de um biólogo engajado em causas ambientais, e também um estudioso que quer continuar sua trajetória acadêmica fazendo um Doutorado. Deseja terminar sua coleção de fotos das aves do Ceará e descer os seus rios de Caiaque, e depois arrumar outra desculpa para permanecer em contato com a natureza o máximo de tempo possível! Que você continue fazendo a diferença e promovendo a falcoaria no seu estado. Muito obrigada pela entrevista!
VIA DIÁRIO DE ESTUDOS DE FALCOARIA
VIA DIÁRIO DE ESTUDOS DE FALCOARIA