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segunda-feira, 30 de março de 2015

Artigo: Mestre Sebastião Chicute

Sebastião Alves Lourenço, filho do agricultor Francisco Lourenço Sobrinho (Chicute) e Maria Alves dos Santos, nasceu em Aratuba, a 4 de abril de 1934. Aprendeu a ler com ajuda de amigos e sem frequentar a escola. Além de agricultor, foi comerciante e vereador em Capistrano, na década de 1980. Na sua bagagem cultural, acumulou experiências de quermesseiro, mestre de reisado e cordelista, tendo esta última atividade se intensificado nos últimos 10 anos. 

Sebastião Chicute descreveu o grande desafio de aprender a ler sem frequentar a escola. A experiência é tão forte que reproduzimos trecho de seu depoimento sobre o assunto. Disse ele em entrevista a este missivista: “Eu morava na serra, no município de Aratuba. Ajudei meu pai desde criança, trabalhando no roçado. (...) Então ninguém se importava com escola, só os filhos dos patrões, mesmo assim uns queriam outros não queriam. Quando eu vinha do roçado com meu pai, passava na casa do nosso patrão e eu via os filhos dele estudando, lendo. Eu tinha vontade de aprender a ler. Aí um dia, tinha um passado as férias lá e me perguntou: Bastião tu quer aprender a ler? Eu disse , quero. Ele disse: Pois compre uma carta de ABC que eu te ensino. Aí eu comprei a carta de ABC e ele começou a me ensinar. ... Foi indo, foi indo e foi e eu aprendi a ler o pouco que sei, ...”

O escritor Gilmar de Carvalho, em Mestres da Cultura Tradicional Popular do Ceará, ao abordar sobre o mestre Sebastião Chicute, também relata como se deu o processo do mestre em estudo, da seguinte forma:”Sebastião nunca aceitou um destino previamente traçado por um Deus pouco generoso. Comprou uma carta de ABC” e o filho do patrão, chamado Edílson, começou a lhe dar as lições nos fins de semana, nas férias.”(Carvalho 2006: 198,199).

O exemplo de alfabetização do mestre Sebastião Chicute pode ser levado a muitos que não tiveram oportunidade de alfabetizar-se na infância ou na juventude. Além de cordelista, com obra estimada em quase uma centena de cordéis, sobre diversos temas, mestre Sebastião era também mestre de reisado. Estas duas atividades, lhe proporcionaram, em 2006, o título de Mestre da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará, como representante do município de Capistrano, onde residira desde a década de 1970.

Mestre Sebastião Chicute foi tema de minha tese de doutorado na Universidad Autónoma de Asunción (UAA), onde pude analisar a contribuição de sua atividade cultural, na perspectiva do patrimônio imaterial, na qualidade de mestre da cultura do Estado do Ceará. Mestre Sebastião Chicute faleceu em 1 de fevereiro de 2015 com 80 anos. Coincidentemente seu último cordel foi sobre a vida de dom Bosco, cujo aniversário de 200 anos foi comemorado no dia 31 de janeiro de 2015, véspera de seu falecimento.

Francisco Artur Pinheiro Alves
arturpin@yahoo.com.br
Professor do curso de História da Uece