Sebastião Alves Lourenço, filho do agricultor
Francisco Lourenço Sobrinho (Chicute) e Maria Alves dos Santos, nasceu em
Aratuba, a 4 de abril de 1934. Aprendeu a ler com ajuda de amigos e sem
frequentar a escola. Além de agricultor, foi comerciante e vereador em
Capistrano, na década de 1980. Na sua bagagem cultural, acumulou experiências
de quermesseiro, mestre de reisado e cordelista, tendo esta última atividade se
intensificado nos últimos 10 anos.
Sebastião Chicute descreveu o grande desafio de
aprender a ler sem frequentar a escola. A experiência é tão forte que
reproduzimos trecho de seu depoimento sobre o assunto. Disse ele em entrevista
a este missivista: “Eu morava na serra, no município de Aratuba. Ajudei meu pai
desde criança, trabalhando no roçado. (...) Então ninguém se importava com
escola, só os filhos dos patrões, mesmo assim uns queriam outros não queriam.
Quando eu vinha do roçado com meu pai, passava na casa do nosso patrão e eu via
os filhos dele estudando, lendo. Eu tinha vontade de aprender a ler. Aí um dia,
tinha um passado as férias lá e me perguntou: Bastião tu quer aprender a ler?
Eu disse , quero. Ele disse: Pois compre uma carta de ABC que eu te ensino. Aí
eu comprei a carta de ABC e ele começou a me ensinar. ... Foi indo, foi indo e
foi e eu aprendi a ler o pouco que sei, ...”
O escritor Gilmar de Carvalho, em Mestres da
Cultura Tradicional Popular do Ceará, ao abordar sobre o mestre Sebastião
Chicute, também relata como se deu o processo do mestre em estudo, da seguinte
forma:”Sebastião nunca aceitou um destino previamente traçado por um Deus pouco
generoso. Comprou uma carta de ABC” e o filho do patrão, chamado Edílson,
começou a lhe dar as lições nos fins de semana, nas férias.”(Carvalho 2006:
198,199).
O exemplo de alfabetização do mestre Sebastião
Chicute pode ser levado a muitos que não tiveram oportunidade de alfabetizar-se
na infância ou na juventude. Além de cordelista, com obra estimada em quase uma
centena de cordéis, sobre diversos temas, mestre Sebastião era também mestre de
reisado. Estas duas atividades, lhe proporcionaram, em 2006, o título de Mestre
da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará, como representante do
município de Capistrano, onde residira desde a década de 1970.
Mestre Sebastião Chicute foi tema de minha tese de
doutorado na Universidad Autónoma de Asunción (UAA), onde pude analisar a
contribuição de sua atividade cultural, na perspectiva do patrimônio imaterial,
na qualidade de mestre da cultura do Estado do Ceará. Mestre Sebastião Chicute
faleceu em 1 de fevereiro de 2015 com 80 anos. Coincidentemente seu último
cordel foi sobre a vida de dom Bosco, cujo aniversário de 200 anos foi
comemorado no dia 31 de janeiro de 2015, véspera de seu falecimento.
Francisco Artur Pinheiro Alves
arturpin@yahoo.com.br
Professor do curso de História da Uece